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DD VAREJÃO RECEBE CIDADANIA NANUQUENSE

Ele recebeu o EM TEMPO e falou de sua vida empresarial e familiar

DD VAREJÃO RECEBE CIDADANIA NANUQUENSE
Por: EM TEMPO
postado em 20 de dezembro de 2023

Por Salvador Lima

O empresário do setor pecuário, DD Varejão, foi contemplado recentemente com o título de Cidadão Honorário do Município de Nanuque. Ele, que atuava, antes de 1971, como industrial – foi proprietário de um frigorífico em Vitória, capital do Espírito Santo –, resolveu diversificar suas atividades ao partir para o campo da pecuária.

Para tanto, ele fez uma pesquisa para ver qual região poderia receber seus investimentos. Ao analisar as informações positivas que chegavam sobre Nanuque, arrumou as malas e partiu para o Vale do Mucuri. Além das roupas, suas malas estavam repletas de sonhos cuja pretensão, era a de solidificar seu objetivo na trajetória da prosperidade.

Já em Nanuque, Varejão adquiriu terras que serviram como o pontapé inicial de um novo ciclo em sua vida – o de produtor rural. Pela maneira de conduzir negócios, associado ao seu espírito de liderança, conquistou o respeito, não somente dos colegas que atuavam no setor, mas também de toda sociedade nanuquense. Hoje, no auge dos seus 92 anos se orgulha de seu passado, principalmente o ter formado uma família composta de 6 filhos – Floriano Neto, Guigo, Alexandre, as gêmeas Maria Elizabeth e Maria Margareth (frutos do primeiro casamento), e Gustavo filho de seu casamento com Márcia Aparecida. Com o título de cidadania nas mãos, ele recebeu o EM TEMPO para falar de suas memórias:

DD VAREJÃO RECEBE CIDADANIA NANUQUENSE

EM TEMPO – Conta como foi o início de sua vida aqui na cidade?

VAREJÃO – Olha, primeiramente tive que aprender a cultura local. Mas já tinha alinhavado o objetivo que eu pretendia alcançar. Então fui colocando em prática cada detalhe do que havia traçado e tudo foi se tornando realidade. Hoje posso dizer que fiz uma boa escolha quando resolvi me mudar para Nanuque.

EM TEMPO – Qual o significado do Título de Cidadão Honorário de Nanuque?

VAREJÃO – O título de cidadania que recebi da Câmara Municipal tem um significado importante na minha vida. Agora posso dizer oficialmente que sou um nanuquense. Apesar do título, eu sempre me senti um cidadão desta cidade porque quando cheguei aqui eu ainda era jovem e cheio de sonhos e energia para reconstruir minha vida. Aprendi a amar esta terra e o que puder fazer para torna-la melhor eu farei. Gosto muito de Nanuque porque foi aqui que eu reconstruí minha vida sentimental ao me casar pela segunda vez com uma pessoa maravilhosa que cuida de mim com amor e eu, em contrapartida, cuido dela com desvelo.

DD VAREJÃO RECEBE CIDADANIA NANUQUENSE

Ladeado pelos vereadores Givanildo Moreira e Joselicio Medina, DD Varejão recebe o título de cidadania

EM TEMPO – O senhor fala de sua vida familiar com certa emoção...

VAREJÃO – Realmente fico muito emocionado porque a família é o esteio de qualquer ser humano e a minha não foge à regra. Ainda jovem eu me casei com a Dilma e com ela tive 5 filhos, mas nosso casamento acabou. Já em Nanuque, ao conhecer a Márcia senti que era o momento e a hora de reconstruir minha vida. A partir de então, tudo mudou. A Márcia é uma pessoa simples e dedicada. Sinto uma grande felicidade por tê-la encontrado. Nossa vida é marcada pela doação mútua onde um encontra no outro a fórmula de ser feliz. A Márcia possuiu duas formações acadêmicas – Zootecnia e Artes Plásticas. Ela tem uma capacidade de percepção impressionante. Ela chega num lugar e percebe coisas que ninguém está vendo.

EM TEMPO – O senhor tem alguma formação acadêmica?

VAREJÃO – Me formei em 1951 em contabilidade. Sou do tempo que nem se usava a palavra contador para definir a profissão. Naquela época se usava o termo “guarda-livros”. Então, o “guarda-livros” recebia o material da empresa e fazia o serviço de contabilidade. Ainda tenho uma carteira de identificação profissional que define meu ofício como guarda-livros. Essa profissão me ajudou muito porque tenho facilidade para mexer com números.

EM TEMPO – O senhor morou em Vitória, uma cidade mais avançada com melhor infraestrutura para oferecer às pessoas. O que motivou sua mudança em 1971?

VAREJÃO – Você tem razão ao dizer que uma capital tem melhor infraestrutura para oferecer uma vida mais consistente para a população, porque é nos grandes centros que as coisas acontecem. Naquele tempo eu tinha um frigorífico lá, mas a minha vocação e o meu sonho era ser produtor rural e as perspectivas sobre Nanuque eram muito boas. Nanuque dos anos 50, 60 e 70 não era uma cidade como a de agora, mas o setor agropecuário vivia um boom de desenvolvimento e eu entendi que ao investir aqui, poderia ser uma oportunidade lucrativa. Foi então que resolvi comprar terras para realizar o meu sonho de ser um produtor rural.

EM TEMPO – Ao sair de Vitória o impacto não foi grande demais?

VAREJÃO – Não. Economicamente, Nanuque dos anos 70 era uma cidade muito diferente. Aqui a economia em todos os setores era muito aquecida. A cidade era um verdadeiro polo de desenvolvimento. Nanuque liderava as regiões compostas pelo extremo sul da Bahia, norte do Espírito Santo e esta parte do Vale do Mucuri. Qualquer um com um pouco de dinheiro e que tivesse tirocínio empresarial, tinha grandes possibilidades de fazer sucesso. Me lembro que nos anos 50 eu vinha aqui comprar gado para o frigorífico e a dificuldade de chegar em Nanuque era muito grande. A estrada para Vitória era de chão e muito ruim. A BR 101 não existia nem em sonhos. Eu gastava 13 horas de viagem num jeep. Eu passava em Conceição da Barra, naquele areão desgraçado, o jeep não andava. Passávamos numa mata que tinha até onças.

EM TEMPO – O senhor conhece esta região desde 1950. Portanto, tem lembrança de como era naquele tempo – Nanuque e sua efervescência econômica. O que aconteceu para a derrocada que vemos hoje?

VAREJÃO – Simples! Má administração. Administração ruim. Não pensaram em fazer coisas para segurar o povo aqui. Ainda bem que temos o Frisa. Se não fosse o Frisa, Nanuque não teria mais nada. Aonde é que você vai arranjar mais de mil empregos numa cidade como essa? A sorte de Nanuque é o Frisa, um frigorífico internacional e dos melhores, muito importante e que emprega muita gente. Há algum tempo eu fui no Frisa e fiquei irritado com a decadência e o abandono em que se encontra a Avenida Mucuri ali na região do frigorífico. Aí eu pensei: Essa porcaria aqui deveria ser pavimentada com granito e dos bons, porque o que essa empresa faz por Nanuque não poderia ser diferente. Até porquê, os compradores internacionais exigem que o caminhão não passe por locais empoeirados. A poeira contamina o produto que é transportado. Daí a minha revolta com a prefeitura de Nanuque que não cuida daquela área. Higiene é coisa séria e importante. Na minha casa ou na sua, a limpeza tem que ser algo imprescindível. Se eu chegar na minha casa e encontrar algo sujo, eu acho ruim, acho ruim mesmo, dou bronca e falo mesmo. Então um frigorífico que exporta carne para vários países do mundo tem que apresentar ao seu cliente o certificado de que o produto passará por rigoroso processo de higiene não só na parte interna da indústria, mas também na estrutura de transporte e isso engloba ruas, avenidas e rodovias.

DD VAREJÃO RECEBE CIDADANIA NANUQUENSE

Na tribuna da Câmara o produtor rural, Edvaldo Siqueira Varejão agradeceu o vereador Givanildo Moreira, autor do Projeto de Resolução que lhe conferiu o título de cidadania. DD ainda fez um relato de sua vida desde os tempos em que chegou na cidade de Nanuque, no início dos anos 70

EM TEMPO – O senhor cita o Frisa como importante para Nanuque, mas a Alcana que deverá reiniciar suas atividades em pouco tempo oferecendo mais de mil empregos diretos.

VAREJÃO – Eu costumo dizer que Nanuque tem a sorte que outras cidades não têm. Nosso potencial é gigantesco. Com o reinício das operações da Alcana, esta região pode se tornar num polo açucareiro. Nenhum município aqui da região tem o que nós temos.

EM TEMPO – Falamos de empresas que Nanuque tem, mas esquecemos de dizer que no passado, a cidade contou com importantes laticínios. O que aconteceu para o fechamento da indústria láctea?

VAREJÃO – Impressionante. Já tivemos o Laticínio Agostinho Bossi, a Spam, a CCPL e a Nestlé e hoje não temos nada e justamente num município produtor de leite. A má administração acabou com todos eles. Enquanto isso, ficamos na dependência de outros laticínios para industrializar o nosso leite. Isso é uma vergonha, principalmente para uma cidade cuja potencialidade e importância é reconhecida.

EM TEMPO – Como está o agronegócio?

VAREJÃO – O agronegócio é motivo de orgulho não só para os produtores, mas também para o povo de maneira geral. Veja que há cerca de 50 anos o setor no Brasil, não correspondia ao gigantismo do país. Preocupado com isso, o então presidente da República, Ernesto Geisel, veio à Minas e convidou o Alysson Paolinelli para o Ministério da Agricultura. Aí foi o momento chave. O Paolinelli investiu pesado no treinamento de profissionais enviando-os para o exterior para aprender como se faz agricultura com seriedade. Os meninos voltaram e iniciaram a transformação que vemos hoje. De importador de alimentos, passamos para exportador. Cerca de 30% do alimento consumido no mundo é produzido no Brasil. Isso é motivo de orgulho porque essa exportação equilibra a balança comercial.

EM TEMPO – Se fizermos um comparativo da Nanuque antiga para a hoje, qual seria a diferença?

VAREJÃO – Se você se refere ao setor econômico, eu posso dizer que estamos estabilizados. A pecuária está muito bem, mas temos de reconhecer que o município entra num ciclo importante pela chegada da agricultura. O plantio de cana para a indústria sucroalcooleira tem mudado o cenário e isso eu considero primordial para o desenvolvimento. Aqui nas proximidades temos 4 usinas de álcool e está chegando a Alcana e para supri-las, é necessário que se plante muita cana. Tudo isso para não falar da produção de eucalipto que a Suzano Celulose necessita. A Suzano em nossa região é fundamental pois traz receita e distribuição de renda.

EM TEMPO – Se Nanuque tem grande potencial econômico, por que a população não cresce?

VAREJÃO – Nanuque está localizada entre três grandes cidades que se desenvolveram com o passar do tempo – Teófilo Otoni (MG), Teixeira de Freitas (BA) e São Mateus (ES). São cidades que cresceram mais que Nanuque e que passaram a oferecer oportunidades de emprego. Por isso, nossa população acabou migrando para esses lugares. Nanuque precisaria entrar num ciclo de desenvolvimento para criar emprego e distribuição de renda para conter a evasão.

EM TEMPO – Como será Nanuque daqui 20 anos?

VAREJÃO – Eu não sei. Eu não vou estar aqui mesmo (Risos). Eu entendo que o povo tem que votar certo. Se não for assim, o cenário será o pior possível. Um voto errado traz consequências desastrosas para uma comunidade. Os mais antigos têm a capacidade de avaliar Nanuque de antigamente e fazer a comparação com a de hoje. E por que a coisa desandou? Simples! Porque, em algum momento, em alguma eleição, o povo escolheu mal e colocou no poder quem não tinha capacidade para governar. Por conta disso, todos estão pagando o preço daquilo que estamos vendo hoje. Se continuar escolhendo mal, nada vai acontecer o que é uma pena já que o município tem potencial e uma excelente localização por estar em uma tríplice fronteira – Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais.

EM TEMPO – Dentro de 10 anos estará em operação a Estrada de Ferro Bahia-Minas...

VAREJÃO – Uma maravilha. Ela nunca deveria ter sido desativada. Ela deveria ter sido melhorada. O Juarez Távora é que foi o grande culpado. Ele desativou as estradas de ferro no Brasil e hoje pagamos um preço alto demais. O Bolsonaro iniciou a implantação de algumas e isso poderá ser um adendo para o desenvolvimento já que vai baratear o frete. O Brasil não pode ser dependente do caminhão até porque, o custo é muito maior quando se trata de calcular despesas com transporte.

EM TEMPO – O movimento chamado UDR (União Democrática Ruralista) que lançou Ronaldo Caiado candidato à Presidência da República não prosperou por quê?

VAREJÃO – Na verdade, os ruralistas estavam muito preocupados em não perder suas terras na Constituinte. Então a nova Constituição garantiu o direito à propriedade e o movimento se desfez. Eu conheço o Ronaldo pessoalmente, de almoçar e jantar juntos, ele é um sujeito muito inteligente, muito corajoso, simpático, foi eleito deputado federal, senador por duas vezes, governador de Goiás e reeleito no primeiro turno. Então, ele tem um cabedal político forte. Ele teria sido um bom presidente da República, mas a UDR achou que estava tudo bem. Olha, o bairro UDR que nós temos aqui em Nanuque só existe porque eu dei o dinheiro para comprar o terreno e doar às pessoas que não tinham casas. Na época o Nide era prefeito, mas não teve nada a ver com a criação do bairro. Tudo foi comprado e doado com o dinheiro da UDR. Na época eu era o presidente da entidade em Nanuque e poderia ter ficado com os recursos que eram restos de campanha, mas preferi comprar o terreno e fazer as doações. Sinto-me honrado por ter feito isso. Afinal, a área ajudou muita gente e outra, o bairro é porta de entrada da cidade, deveria ser melhor cuidado para causar boa impressão naqueles que circulam na rodovia.