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'À Luta, À Voz' reúne produção de escritores, músicos e poetas da periferia

Iniciativa foi fundada para incentivar a arte marginal e abarca 88 textos de 22 autores

'À Luta, À Voz' reúne produção de escritores, músicos e poetas da periferia
Por: otempo.com.br
postado em 13 de outubro de 2021

Foto: Coletivoz/Divulgação

“À Luta!”. Todas as vezes que essa saudação ecoava nos saraus organizados pelo Coletivoz, a resposta vinha de imediato: “À Voz!”. Esse grito de guerra era “uma forma de motivar os poetas iniciantes e todos aqueles que iriam recitar suas obras na frente de todos”, conta Dione Machado, 35, um dos idealizadores da iniciativa e organizador do livro que será lançado nesta sexta (14), cujo título repete a frase que se tornou emblemática: “À Luta, À Voz”.

A publicação comemora os dez anos do coletivo que nasceu para dar espaço à chamada “literatura marginal”. “A poesia marginal não tem uma característica própria, como o cordel ou o soneto, nem uma técnica específica. Talvez a liberdade seja o que a defina”, avalia Machado.

Ele explica que o movimento marginal da década de 70, também conhecido como Geração Mimeógrafo, que revelou ao país nomes como Ana Cristina Cesar, Cacaso e Chacal, foi “retomado com outra pegada”. “Hoje essa poesia marginal é realmente feita na margem, inclusive do ponto de vista geográfico, por pessoas que moram na periferia e não têm nenhuma inclusão dentro do sistema em que vivemos”, diferencia. 

Estilo

A ideia inicial era compilar textos de 16 autores, mas, “com a vontade de sempre abraçar mais alguém”, esse número foi estendido para 22. Cada poeta comparece com quatro poemas – totalizando 88 na publicação – e ganha um perfil biográfico. Essa escolha não foi por acaso.

Dentro da diversidade das narrativas, o entrevistado informa que “as vivências e as lutas diárias dos poetas estão intimamente ligadas às suas construções criativas”. “Machismo, feminismo, racismo e as dificuldades para sobreviver  são muito presentes na vida dessas pessoas”, diz.

Outro ponto destacado é a oralidade. A coletânea abarca criações de músicos, performers e slammers, especializados no gênero de poesia falada que se aproxima do rap. Por sinal, o estilo musical aparece como uma das principais influências dos selecionados. “A grande maioria dos poemas está vinculada a rimas e à questão da musicalidade”, observa o curador.

Ele próprio começou a se envolver com literatura por meio do teatro, ainda na infância. “A partir da leitura das dramaturgias, passei a aprofundar o meu interesse em cultura para outras áreas”, afirma. Machado costuma trabalhar com poemas visuais. “De certa forma, a poesia concreta também é marginal, por ainda não ter um reconhecimento tão grande na literatura”, avalia.

Periferia

A empreitada chama à baila textos de poetas de Belo Horizonte, Nova Lima, Contagem, Betim, Sarzedo e Ibirité. “O livro procurou mostrar a produção de poetas de vários gêneros e também de diversas quebradas. Existem muitos outros que fazem parte da nossa história, esse é o pontapé inicial”, celebra Machado. Apesar disso, ele admite as dificuldades financeiras para tocar os projetos.

“À Luta, À Voz” veio ao mundo graças a um financiamento coletivo realizado através da internet. O livro também contou com a colaboração de todos os envolvidos, além dos apoios da editora Venas Abierta e do edital Descentra de Cultura. “Publicar um livro é caro. Para quem é da periferia, é ainda mais difícil. Tanto que levamos dez anos para fazer”, declara Machado.

Mas se tem uma coisa que ele não está disposto a fazer é abaixar a cabeça e entregar os pontos. “Nesses dez anos, vimos diversos poetas surgirem, não só em Minas, mas no Brasil todo. É importante ocupar os espaços, não vamos recuar”, finaliza.

Serviço

Lançamento do livro “À Luta, À Voz”, nesta sexta (14), às 18h, no Centro de Referência da Juventude (Guaicurus, 50, centro). Gratuito. O livro será vendido a R$ 25.