As chuvas ainda não haviam chegado no volume esperado e Minas Gerais registrou casos localizados de granizo e erosões causadas por enxurradas em áreas não muito representativas para a produção agrícola. Mesmo assim, a expectativa do secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Thales Fernandes, é de uma safra de grãos recorde no ciclo 2022/23, saindo de 16,8 milhões para pouco mais de 18,3 milhões de toneladas conforme o levantamento divulgado em novembro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Milho e soja devem responder por 91,6% da colheita esperada.
O clima foi mais severo com o café, que deve praticamente repetir o volume colhido no ano passado, ao redor de 22 milhões de sacas nos dados da mesma Conab, respondendo por 44% da produção brasileira. Para 2023, quando havia a expectativa de uma produção mais elevada, as projeções sugerem nova colheita frustrante, não muito distante da esperada para este ano, segundo o presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Carlos Augusto Rodrigues de Melo.
O volume histórico de grãos colhidos nesse ano, no entanto, não se traduziu em resultados mais expressivos para os produtores. “A expectativa é que as margens de lucro se mantenham estreitas, já que os custos de produção elevaram no período pós-pandemia”, argumenta o presidente do Sistema Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Antônio de Salvo. Em 2022, espera ele, o agronegócio tende a responder por 22% do produto interno bruto (PIB) mineiro, mas as perspectivas para 2023 ainda são incertas. “Teremos um novo governo federal e ainda não há uma definição sobre a política monetária”, argumenta. Na área externa, acrescenta Salvo, as incertezas estão relacionadas à inflação global, ao prolongamento do conflito entre Rússia e Ucrânia e à política de “covid-19 zero” na China, o que pode afetar negativamente a demanda por commodities.
Antônio de Salvo, da Faemg: inflação, conflitos e covid são riscos externos - Foto Divulgação
Alavancado pelos preços médios mais elevados e pela produção cheia, o valor bruto da produção da agropecuária mineira, destaca Fernandes, deverá crescer 9,1% esse ano, saindo de R$ 121,7 bilhões para R$ 132,8 bilhões, o mais elevado da série histórica, representando 11,3% do valor bruto de toda a produção nacional. As exportações do setor acumularam, nos dez primeiros meses desse ano, pouco mais de US$ 12,9 bilhões, alta de 49% em relação a igual período do ano passado, com salto de 63% nas vendas externas de soja em grão; 49% no café e 49,8% na carne bovina innatura.
O secretário lembra ainda que Minas responde por 27% da produção brasileira de leite, com a indústria do setor tendo processado ao redor de 9,6 bilhões de litros no ano passado. A partir de 2023, acrescenta Fernandes, Minas Gerais “assume o status de Estado livre de aftosa sem vacinação”, o que deve abrir novas possibilidades no mercado brasileiro e sobretudo para as exportações do setor.
“Foi um ano um tanto quanto difícil”, resume o presidente da Cooxupé. Os cafezais, que ainda sofriam com os efeitos da geada ocorrida em 2021, enfrentaram inicialmente seca e depois chuvas de granizo, o que frustrou a colheita esperada e reduziu, em consequência, os volumes de café originados pela Cooxupé. A cooperativa fechará o exercício com resultados positivos, embora inferiores àqueles alcançados em anos anteriores, diz Rodrigues. O resultado líquido deve vir abaixo dos R$ 356 milhões registrados no ano passado, embora o faturamento deve superar os R$6,7 bilhões anotados em 2021, refletindo os bons preços da saca ao longo deste ano. Os contratempos não impediram a Cooxupé de manter os investimentos contemplados em seu planejamento estratégico, acerca de R$ 100 milhões nesse ano, não muito distante dos R$ 104,7 milhões investidos no ano passado. Algo como 85% dos recursos foram destinados à expansão da rede de armazéns, com instalação de um sistema de silos com capacidade para 530 mil sacas em Guaxupé (R$ 55 milhões), e de mais um armazém para 250 mil sacas em Patrocínio (R$30milhões). Até dia 30 de novembro, a Cooxupé havia recebido em torno de 4,9 milhões de sacas, das quais 3,6 milhões de cooperados — 20% abaixo do volume esperado — e 1,3 milhão de terceiros. Os associados da cooperativa devem colher 6,43 milhões de sacas nesse ano, queda de 14,1% diante das 7,49 milhões no ano passado.
Arte: Valor