Foto: Reprodução br.jetss – Tiu França e Alexandre de Moraes
Nos tempos em que a imprensa fazia mais jornalismo e menos militância, a ordem no episódio envolvendo a morte do chaveiro Francisco Wanderley Luiz, cidadão brasileiro revoltado com as aberrações vindas da suprema corte, abatido na Praça dos Três Poderes em Brasília, seria outra: Jornalista que se presa, deveria buscar a verdade dos fatos e não as versões convenientes e encomendadas.
Em qualquer país civilizado do mundo, onde o jornalismo está acima das questões ideológicas, onde a deontologia da profissão vem em primeiro lugar, o bom repórter teria acampado na porta do IML de Brasília em busca de laudo dos legistas que examinaram o corpo do infeliz que disparou artefatos inofensivos em direção a sede do poder judiciário, aparentemente abatido com um tiro, após o primeiro rojão. Ato abominável, mas alimentado pelo ódio que alguns magistrados promovem contra quem não pensa como eles.
Porém, o que se vê é uma tentativa insana de alimentar a narrativa do terrorismo, ou de um “golpe”. Chega a ser patético ouvir de jornalistas e políticos experientes, que ocupam cargos de liderança no Congresso Nacional, a tese de que um indivíduo, aparentemente desequilibrado, usando foguetes cuja a venda é liberada na esquina, possa ameaçar ministros da suprema corte, numa quarta-feira à noite, debaixo de chuva, e em ato solitário.
As imagens mostram que após o primeiro disparo do foguete o suporto “terrorista/golpista”, cai imóvel, e o segundo rojão que ele preparava para soltar, explode na suas mãos. Não adianta a imprensa tentar alinhar a narrativa do “golpe” ou do terrorismo, as imagens são claras, o que provavelmente o matou não foi o foguete que ele preparava para soltar, o que lhe teria ferido, mas não matado. O que o matou muito provavelmente foi um tiro certeiro, vindo da arma de algum dos seguranças que circulavam em frente ao STF.
O chaveiro Francisco Wanderley Luiz, segundo consta em farto noticiário da “prôba” imprensa esquerdista, passava por sérios problemas familiares. Sua insanidade é uma coisa, repreensível como qualquer ato de violência. Já a sua indignação, outra. Não é algo isolado, é o sentimento de milhões de pessoas que não suportam olhar para a cara cínica de Alexandre de Moraes e de meia dúzia de outros ministros da Suprema Corte, que ignoram a opinião pública e debocham das pessoas como se fossem deuses. Quem não pensa como eles, é “golpista, antidemocrático ou radical de direita.” Eles são os donos da verdade, e ninguém ouse contrariá-los. Querem regulamentar as redes sociais, colocá-las nos seus cabrestos, mas esquecem de respeitar a Constituição, tudo isso debaixo do bigode da imprensa, de cócoras para o sistema.
O brasileiro médio que pensa sem a “ajuda” da velha mídia, não aguenta mais tanta injustiça e cinismo de magistrados que zombam das pessoas, que não respeitam a liturgia do cargo, que se acham acima das leis, paladinos da democracia, como se tivessem recibo procuração da população para falar em nome dela publicamente, e não nos autos, quando chamados. Vale lembrar, com efeito, que nenhum deles pode circular livremente junto ao povo que eles dizem defender, sob pena de linchamento. Vale também as raras e honrosas exceções, que não cabem em uma mão, mas que por espírito de corpo se calam.
Francisco aparentemente tinha desvios de comportamento, motivados por questões pessoais e familiares, mas era um indivíduo indignado, como a maioria dos cidadãos brasileiros. Ignorar este fato, acreditar que a suprema corte brasileira, em especial que Alexandre de Moraes não contribuiu para este episódio trágico e lamentável, é fechar os olhos para a realidade, é rasgar o diploma de jornalismo e admitir que foi doutrinado por idiotas úteis.
Pior ainda é tentar colar o fato deprimente nos movimentos de direita que estão cansados de tanta mentira, e no ex-presidente Jair Bolsonaro que não tem nada a ver com a história, como a imprensa e o ministro Moraes estão tentando fazer.
Insensatez também é associar o disparo do artefato pirotécnico, cuja venda é livre, como a própria primeira dama Janja da Silva admitiu em declaração pública, a uma ameaça à democracia. Se fogueteiros fossem ameaça para a democracia, rojões não seriam vendido livremente em lojas de material pirotécnico.
A sordidez é tamanha que estão tentando encontrar nexo causal do episódio na Praça dos Três Poderes ao processo de anistia dos presos políticos encarcerados, estes sim, injustamente, sem o devido processo legal, desde o dia 8 de janeiro de 2023. Adélio Bispo a propósito, foi considerado um lobo solitário pelo mesmo delegado escalado por Moraes para investigar o episódio do fogueteiro “Tiu França.”
Isso sim é terrorismo psicológico com pessoas que não representam nenhuma ameaça para sociedade, impetrada de ofício, movido por sentimento de vingança, e pelo poder da caneta de um magistrado sem limites, com a conivência dos seus pares, de políticos e da imprensa que deixou de fazer jornalismo e hoje age como militante em defesa de partes envolvidas em conflitos, sem o devido distanciamento que é exigido pela ética do bom jornalismo. É hora de um basta no cinismo e nas mentiras que tomaram conta da cena nacional.
Por: José Aparecido Ribeiro - jornalista