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Chefe de gabinete de Hugo Motta recebeu procurações para movimentar salários de assessores desde 2011

Ivanadja Meira, ré por suspeita de rachadinha, recebeu poder para sacar salários de ao menos dez assessores no gabinete do presidente da Câmara

Chefe de gabinete de Hugo Motta recebeu procurações para movimentar salários de assessores desde 2011
Por: EM TEMPO
postado em 19 de agosto de 2025

Ao menos dez assessores parlamentares lotados no gabinete do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), entregaram procurações com poderes para movimentar, sacar e administrar seus próprios salários à chefe de gabinete do deputado, Ivanadja Velloso Meira Lima, desde 2011. As informações foram reveladas pelo portal Metrópoles.

Chefe de gabinete de Hugo Motta recebeu procurações para movimentar salários de assessores desde 2011

 Hugo Motta Tem muito o que explicar sobre assessores fantasmas em seu gabinete - Foto: Reprodução

As procurações foram registradas em cartórios na Paraíba, estado natal de Motta, e concediam amplos poderes à assessora, que é ré na Justiça Federal por envolvimento em um suposto esquema de rachadinha no gabinete do deputado federal Wilson Santiago (Republicanos-PB).

Assessores e vínculos familiares

Durante o período em que estiveram lotados no gabinete de Hugo Motta, os dez servidores cujos salários puderam ser movimentados por Ivanadja receberam juntos cerca de R$ 4,1 milhões. A cifra, no entanto, não representa o total movimentado por Ivanadja, mas apenas a soma dos salários brutos recebidos pelos funcionários.

Atualmente, dois desses assessores continuam nomeados no gabinete do deputado. Um deles é Ary Gustavo Soares, de 48 anos, que, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, atua como caseiro em uma fazenda pertencente a Motta, na cidade de Serraria (PB), a 131 quilômetros de João Pessoa. O cargo que ocupa exige dedicação exclusiva e carga horária de 40 horas semanais.

Além disso, familiares de Ary ocupam cargos em administrações ligadas à família de Motta. A esposa do caseiro, Isabella Perônico, trabalha para a deputada estadual Francisca Motta, avó do parlamentar. Já o irmão, André Guedes, é superintendente da PatosPrev, autarquia da Prefeitura de Patos, comandada pelo pai de Hugo Motta, Nabor Wanderley (Republicanos).

A segunda servidora ainda lotada no gabinete de Motta é uma mulher de 69 anos, vinculada ao deputado desde 2013.

Trânsito político e suspeitas anteriores

Após deixarem o gabinete de Motta, alguns dos ex-assessores passaram a ocupar cargos em gabinetes de aliados políticos. Uma ex-servidora, de 47 anos, que esteve com Motta entre maio de 2011 e março de 2012, foi nomeada no gabinete de Wilson Filho, filho do deputado Wilson Santiago, com quem Ivanadja também já trabalhou.

As suspeitas sobre o uso indevido de recursos públicos não são inéditas para o deputado. Em 2023, quando era líder da bancada do Republicanos, Hugo Motta solicitou reembolso de cerca de R$ 27 mil por um jantar com o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e mais de 30 correligionários – evento fora da agenda oficial.

Pressão política e silêncio dos envolvidos

A denúncia surge em um momento de alta tensão política na Câmara, especialmente após a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A oposição pressiona Motta para colocar em pauta projetos como o fim do foro privilegiado e a anistia a condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023.

A reportagem de O Tempo Brasília entrou em contato com Hugo Motta e sua chefe de gabinete, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações.

Repercussão e próximos passos

A revelação de que uma funcionária com histórico de denúncias teve acesso irrestrito aos salários de assessores parlamentares por meio de procurações formais levanta preocupações sobre a transparência e o controle de gastos no Legislativo.

Organizações de controle como o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas da União devem ser provocadas a investigar os indícios de peculato, improbidade administrativa e desvio de verba pública.