A Venezuela convocou seu embaixador no Brasil, Manuel Vadell, para consultas nesta quarta-feira (30) e, ao mesmo tempo, convocou o encarregado de negócios brasileiro em Caracas por “declarações intervencionistas” do governo brasileiro, segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores venezuelano.
Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em discurso no Palácio de Miraflores, em Caracas. • Reuters
O governo brasileiro não comentou oficialmente de imediato a decisão da Venezuela.
O anúncio do ministério venezuelano é o capítulo mais recente de um impasse entre os dois países que cresce desde que o governo Lula passou a insistir ao governo do presidente Nicolás Maduro que mostre os registros eleitorais que sustentariam a vitória nas eleição presidencial de 28 de julho, declarada pelas autoridades do país.
Maduro também tem se queixado do veto imposto pelo Brasil à entrada da Venezuela como país associado ao grupo Brics durante cúpula mais recente, realizada na semana passada em Kazan, na Rússia.
O presidente Lula determinou pessoalmente que o Itamaraty bloqueasse a entrada da Venezuela nos Brics durante a cúpula dos líderes do bloco, realizada na semana passada em Kazan, na Rússia.
A CNN apurou que Lula ficou tão irritado com a posição de Maduro que não quer nem mais ouvir falar do líder venezuelano e das fraudes nas eleições.
Jorge Rodríguez, presidente do Parlamento venezuelano, dominado pelo partido governista, disse em comunicado nesta quarta-feira (30) que irá propor que a Assembleia Nacional declare Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, persona non grata.
Amorim “tem se dedicado de maneira impertinente a emitir juízos de valor sobre processos que só correspondem aos venezuelanos e venezuelanas e às suas instituições democráticas, o que constitui uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados”, acrescenta o comunicado do Ministério das Relações Exteriores venezuelano.
As declarações de Celso Amorim
Chefe da assessoria especial da Presidência da República, Celso Amorim disse que autoridades venezuelanas estão “acusando injustamente” o Brasil por barrar a adesão do país vizinho aos Brics — grupo com liderança brasileira junto com Rússia, China, Índia e África do Sul.
Em audiência na terça (29) na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, Amorim disse que a decisão do bloco não foi ideológica. Ele citou que o Brasil acredita que, para ingressar no grupo, é preciso ser um país com influência e que possa ajudar a representar a região.
Relações bilaterais
Pelo menos 600 mil venezuelanos migraram para o Brasil nos últimos anos, enquanto o comércio bilateral foi de cerca de 1,7 bilhão de dólares em 2022, com exportações brasileiras de 1,3 bilhão de dólares e exportações venezuelanas de 400 milhões de dólares, segundo dados das autoridades brasileiras.
Desde agosto, o Brasil mantém a custódia da residência do embaixador argentino em Caracas após a expulsão de seus diplomatas pelo governo Maduro. Seis colaboradores da líder da oposição María Corina Machado permanecem refugiados naquela residência argentina desde março.
*Com informações da Reuters