Menos de 24 horas após participar de uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o então diretor da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Arthur Ferreira Rezende Delfim, foi preso preventivamente pela Polícia Federal nesta quarta-feira (17), acusado de integrar um esquema bilionário de fraudes em licenciamentos ambientais para beneficiar empresas de mineração.

Arthur Ferreira Rezende Delfim representou a Feam em audiência pública - Foto: Willian Dias/ALMG
A prisão ocorreu no âmbito de uma operação que investiga corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa envolvendo servidores públicos, políticos e empresários. Segundo a PF, Arthur atuava como intermediário na concessão de licenças ambientais irregulares, coordenando decisões técnicas que favoreciam projetos minerários suspeitos.
Audiência pública e contradições
Na tarde de terça-feira (16), Delfim representou a Feam em uma audiência pública na ALMG, onde defendeu mudanças nas regras de licenciamento ambiental para atividades agropecuárias. A proposta, alvo de críticas de ambientalistas e sindicalistas, foi justificada por ele como parte de um esforço para “desburocratizar processos”.
Horas depois, veio à tona que Arthur era investigado como parte central de um esquema que vendia decisões técnicas favoráveis a mineradoras em troca de propina. Ele ocupava o cargo de diretor de Apoio à Regularização Ambiental da Feam.
Esquema bilionário
A investigação revela um esquema estruturado que movimentou R$ 4,3 bilhões entre 2019 e 2024, por meio de empresas de fachada e contratos simulados. Entre as principais empresas envolvidas estão:
· Fleurs Global Mineração – considerada o núcleo financeiro do grupo.
· Mineração Gute Sicht – envolvida nas primeiras fraudes na região da Serra do Curral.
· Minerar Participações – responsável pelos principais projetos minerários.
A organização criminosa era comandada, segundo a PF, pelo empresário Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como chefe do grupo. Ele contava com apoio de João Alberto Lages, ex-deputado estadual, e Helder Adriano de Freitas, responsável por contratos e interface com órgãos ambientais.
Propinas e interferência em órgãos públicos
Outro nome de peso envolvido é Rodrigo Gonçalves Franco, ex-presidente da Feam, que deixou o cargo no último sábado (13) e também teve prisão decretada. Franco teria solicitado R$ 50 mil para repassar a Arthur e, anteriormente, recebido R$ 100 mil para cassar uma licença da mineradora Vale, vista como obstáculo aos interesses do grupo.
A Polícia Federal aponta ainda que o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Mário Trivellato Seabra Filho, recebeu R$ 3 milhões em propinas. Ele teria alterado uma resolução da agência, em novembro de 2024, para atender demandas diretas do empresário Alan Cavalcante.
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Reações e próximos passos
Procurada, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente ainda não se manifestou oficialmente. O governo de Minas prometeu se pronunciar nesta tarde por meio do corregedor-geral do Estado, Vanderlei Daniel da Silva.
O caso levanta novas preocupações sobre a transparência e integridade na gestão ambiental em Minas Gerais, especialmente em um estado historicamente marcado por desastres ambientais causados por atividades mineradoras.
A operação da Polícia Federal segue em andamento, e os detidos devem ser ouvidos nos próximos dias. Novas fases não estão descartadas.





