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Idiota é quem trabalha com registro, diz Presidente da Fiemg

Flavio Roscoe diz que governo desestimula trabalho com Bolsa Família

Idiota é quem trabalha com registro, diz Presidente da Fiemg
Por: Painel S/A folha de São Paulo
postado em 06 de julho de 2025

Flávio Roscoe comanda a Fiemg, a federação das indústrias de Minas Gerais. Ele diz que, apesar de o estado ter sido decisivo para a eleição de Lula, em 2022, hoje há chances de vitória para um candidato de direita. Isso porque, na sua avaliação, o governo concentrou-se em medidas populistas em vez de atacar problemas estruturais. Na indústria, falta mão de obra por culpa do governo. Para ele, há mais vantagens em ficar desempregado por 20 anos, preso ao Bolsa Família, do que trabalhar 20 anos com carteira assinada para se aposentar.

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Minas Gerais definiu a eleição de Lula. No cenário atual, esse apoio tende a ser mantido?

Prever a eleição é uma ficção científica. Falta um ano e muita coisa pode acontecer. Depende também do candidato que vai contra [Lula]. Mas a propensão à vitória dele hoje é menor.

Por quê?

Hoje a popularidade do presidente está menor e o grande problema do governo é o cenário econômico.

Não é a polarização?

Há uma percepção clara de deterioração macroeconômica. Por que o Congresso se rebelou agora com o IOF? Porque todo dia o governo apresenta uma conta nova para a sociedade sem ter feito o dever de casa. Não dá para ficar jogando para a sociedade e, consequentemente, para o Congresso um novo imposto [o IOF] quando estamos batendo recorde de arrecadação. Deputado não foi eleito para ficar criando imposto de três em três meses.

Mas o governo afirma que as emendas impositivas do Congresso estrangulam o Orçamento. Resta saída?

O governo tem uma política pública equivocada. Não fez a eficiência da máquina pública [reforma administrativa] para compensar e fica criando projetos populistas que precisam de novas fontes de receita.

Idiota é quem trabalha com registro, diz Fiemg

Flávio Roscoe ,1971, Belo Horizonte Fez carreira no setor têxtil, onde atua há 34 anos. Hoje é sóciodiretor da Colortextil Participações, Itatextil e FTX. Tem forte atuação como dirigente setorial. Também preside o Sindimalhas, possui assento na CNI (Confederação Nacional da Indústria) e na Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil)

O senhor mencionou a deterioração macro econômica. Como explica registrarmos a menor taxa de desemprego e recordes de arrecadação?

Esse dado é da perspectiva de quem está procurando emprego. Olhando a população economicamente ativa desocupada, [a taxa] é uma das maiores do mundo. Temos uma grande parte da população apta ao trabalho, mas dependurada em programas sociais, como o Bolsa Família, que não dialogam com o mercado de trabalho. O governo que, em tese, prega a formalização é o maior incentivador da precarização do trabalho.

Como assim?

Temos aí a sensação de pleno emprego, mas as empresas não encontram pessoas para trabalhar. O trabalhador tem a opção de ficar em programa social fazendo bico. Porque ele sabe fazer conta. O brasileiro não é idiota. Ele pensa: “vou ganhar mil e poucos reais do governo, não vou ter vínculo [de trabalho] com ninguém e faço diárias de R$ 200”. O idiota é quem trabalha com carteira assinada, porque ganha R$ 2 mil, paga imposto e ainda vai se aposentar com a regra até os 65 anos.O cara que está há 20 anos no programa social se aposenta aos 45 anos. Quem trabalha 20 anos, não se aposenta. Ora, está tudo errado. O percentual da população desocupada é enorme e muito maior que a do restante dos países, porque o incentivo que o estado vem dando é: “não faça nada, fique em casa”. No Bolsa Família, 40% das pessoas são perfeitamente aptas a trabalhar. Na França, que tem programas sociais fortes, se um desocupado inscrito em banco de trabalho recebe três ofertas de emprego e nega, perde o benefício.

Isso prejudica mais a indústria?

Alguns setores da economia contratam diaristas. A indústria não consegue. Não posso colocar um cara para operar uma máquina de US$ 1 milhão. A chance de me dar um prejuízo no primeiro dia é enorme. Tem de ser formalizado.

Acha que nomes da direita poderão resolver essa situação?

Há viabilidade para um candidato de direita, mas o que prejudica o cenário é o fato de, a cada dia, a eleição estar mais perto. E isso torna mais difícil qualquer movimento em favor de uma solução para o problema.