Um dos beneficiários dos repasses da Arpar é Paulo Boudens, advogado e ex-chefe de gabinete do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Entre setembro de 2023 e fevereiro de 2024, Boudens recebeu R$ 3 milhões da empresa, período em que as fraudes atingiram seu pico.
MISTÉRIO - Boudens (à esq.) e o “Careca do INSS” (à dir.): pagamentos para ex-assessor de Alcolumbre (Roque de Sá/Ag. Senado/Reprodução)
Na época, Boudens era assessor parlamentar de Alcolumbre. Apesar de os depósitos não configurarem, por si só, um crime, a proximidade entre os envolvidos e o histórico do assessor acenderam o sinal de alerta na CPMI.
Passado polêmico: a sombra da rachadinha
O nome de Boudens não é novo em escândalos. Em 2021, uma reportagem da revista VEJA revelou sua participação num esquema de rachadinha no gabinete de Alcolumbre. Mulheres da periferia de Brasília eram contratadas formalmente como auxiliares, mas não exerciam nenhuma função — parte dos salários era devolvida a integrantes do gabinete.
Na ocasião, Boudens assumiu a responsabilidade, firmou acordo com a Justiça e devolveu os valores desviados. Mesmo assim, continuou ocupando cargos ligados ao senador e, em 2024, foi transferido para o Conselho de Assuntos Políticos do Senado.
100 anos de sigilo e a resistência do Senado
Apesar das revelações da PF e do material entregue à CPMI, um dos principais obstáculos à investigação continua sendo o sigilo de 100 anos imposto pelo Senado sobre os registros de acesso aos gabinetes parlamentares. A medida, criticada por parlamentares da comissão, foi defendida pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, sob o argumento de proteger a imunidade parlamentar e o direito à intimidade.
Para a deputada Adriana Ventura (Novo-SP), autora de requerimentos de quebra de sigilo bancário e fiscal, a manutenção do sigilo “pode servir como escudo para proteger figuras com envolvimento direto no esquema”. A expectativa é que a pressão da opinião pública e o avanço das investigações possam reverter a decisão.
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), anunciou que pretende convocar todos os beneficiários dos repasses feitos pela Arpar. A comissão acredita que seguir o caminho do dinheiro será a chave para desmontar completamente a teia de fraudes.
Enquanto isso, cresce a tensão nos bastidores do Congresso. A prisão de Antunes, somada ao sigilo imposto e ao envolvimento de figuras próximas à alta cúpula do Senado, levanta uma questão incômoda: quantos sabiam — e quantos se beneficiaram — do maior esquema de roubo de aposentadorias da história recente do país?