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Trump acena a Lula em meio a pressão política contra STF e governo brasileiro

Presidente dos EUA joga o anzol, que pode fisgar até bagre

Trump acena a Lula em meio a pressão política contra STF e governo brasileiro
Por: EM TEMPO
postado em 23 de setembro de 2025

Em um movimento que mistura cordialidade diplomática com pressão política, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (23) que teve um breve encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a abertura da Assembleia Geral da ONU. Segundo Trump, houve um abraço, uma rápida troca de palavras e um aceno para uma conversa mais aprofundada “na próxima semana”.

“Ele pareceu ser um homem muito legal. Ele gostou de mim, eu gostei dele. E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto”, declarou Trump, acrescentando que teve “excelente química” com o presidente brasileiro.

Trump acena a Lula em meio a pressão política contra STF e governo brasileiro

Lula e Trump em seus discursos na ONU - Imagem: Michael M. Santiago / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

O gesto aparentemente amistoso ocorre em um contexto tenso entre os dois países. O governo Trump intensificou críticas ao sistema judiciário brasileiro e impôs sanções contra membros do Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo o ministro Alexandre de Moraes, sob alegações de “abuso de autoridade” e “perseguição política” contra aliados conservadores, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Além das sanções individuais, os EUA também anunciaram tarifas de até 50% sobre produtos estratégicos brasileiros, como aço, alumínio e etanol. A medida foi interpretada por analistas como um instrumento de pressão econômica vinculado ao julgamento e condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado em 2023.

“O Brasil está indo mal. Eles só conseguirão se sair bem quando trabalharem conosco. Sem nós, fracassarão — como outros fracassaram”, disse Trump, em tom ameaçador.

Diplomacia ou armadilha?

Nos bastidores diplomáticos, o gesto de Trump foi interpretado por alguns setores do governo brasileiro como uma tentativa de criar divisão dentro do Executivo e explorar a tensão entre o Planalto e o STF. O aceno direto a Lula pode ser uma tentativa de isolá-lo de figuras centrais do Judiciário, especialmente de Moraes, hoje alvo prioritário da retórica trumpista e bolsonarista.

Líderes do PT veem com cautela a aproximação. “Trump não dá ponto sem nó”, afirmou à reportagem um interlocutor próximo de Lula. Há receio de que o republicano use uma eventual conversa com o petista para se projetar como líder influente nas Américas, em um momento em que sua pré-candidatura à presidência em 2026 ganha força.

Resistência institucional brasileira

Em discurso na ONU, Lula evitou citar diretamente os Estados Unidos, mas foi enfático ao condenar “medidas unilaterais e arbitrárias” contra o Brasil. O presidente defendeu a soberania das instituições e o respeito ao resultado das urnas.

O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, reagiu institucionalmente às sanções. Alexandre de Moraes ironizou a medida dizendo não possuir bens nos EUA e reafirmou o compromisso com o Estado de Direito.

No Itamaraty, o clima é de cautela. A diplomacia brasileira considera que Trump tenta usar a política externa para reforçar sua narrativa doméstica — de que a esquerda latino-americana age em conluio com sistemas judiciais para neutralizar conservadores. Esse discurso ecoa entre seus apoiadores tanto nos EUA quanto no Brasil.

Telefonema incerto

Apesar da promessa de encontro “na próxima semana”, ainda não há confirmação oficial de uma conversa entre Lula e Trump. Auxiliares do presidente avaliam se é prudente aceitar a ligação, especialmente diante do tom dúbio das declarações do republicano: conciliador no contato pessoal, mas hostil nas decisões políticas.

Análise

A movimentação de Trump em relação ao Brasil tem múltiplas camadas: um gesto simbólico de aproximação com Lula, uma tentativa de aprofundar fissuras internas no governo brasileiro e um esforço para moldar a narrativa de perseguição política — útil tanto no Brasil quanto na sua base eleitoral nos EUA.

Enquanto isso, Lula tenta manter a política externa brasileira em rota de equilíbrio, evitando embates diretos com os EUA, mas também sem recuar diante das pressões vindas de Washington.