A deflagração da Operação Rejeito, da Polícia Federal, nesta quarta-feira (17), revelou um esquema de corrupção na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad), envolvendo a emissão fraudulenta de licenças ambientais a mineradoras mediante pagamento de propina. O escândalo, o maior enfrentado pelo governador Romeu Zema (Novo) desde que assumiu o Executivo estadual em 2019, surge em um momento delicado para o político, que lançou oficialmente sua pré-candidatura à Presidência da República no mês passado.
Governador Romeu Zema - Imagem recorte de foto: Dirceu Aurélio / Imprensa MG
Segundo a investigação, os servidores envolvidos facilitavam a tramitação de projetos minerários com potencial econômico estimado em R$ 18 bilhões, beneficiando empresas mediante suborno. A gravidade das acusações impulsionou parlamentares da oposição na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) a intensificar as críticas ao governador e questionar sua capacidade de liderança e controle sobre a administração estadual.
“O governador Zema está pactuando com um crime de sonegação de impostos e quer ser presidente do país. Não vai conseguir chegar lá”, declarou o deputado Lucas Lasmar (Rede), durante audiência na ALMG nesta quinta-feira (18).
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Silêncio e repercussão negativa
Inicialmente, o governo de Minas optou por uma postura discreta, restringindo as declarações a um comunicado oficial emitido pelo secretário de Comunicação, Bernardo Santos. A estratégia, no entanto, provocou reações negativas, tanto entre os parlamentares quanto nas redes sociais, onde usuários questionaram a ausência de um posicionamento direto do governador.
“Cadê você, Zema? O que tem a dizer sobre o escândalo na mineração?”, escreveu um seguidor no Instagram.
“Fale sobre a corrupção do seu governo sobre o meio ambiente”, cobrou outro usuário.
Somente na tarde de quinta-feira (18), Zema se manifestou brevemente ao ser questionado por jornalistas, buscando minimizar os danos e reforçar a autonomia das investigações.
Análise política
Para especialistas, o caso representa um sério entrave às ambições eleitorais de Zema. O cientista político Adriano Cerqueira, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), avalia que a demora em se posicionar reflete uma tentativa de cautela, mas também um cálculo político.
“Zema está em processo de construção de uma imagem nacional. Qualquer desgaste institucional agora pode comprometer essa trajetória. Mas o silêncio prolongado gerou efeito contrário”, analisa Cerqueira.
Já o professor Lucas Gelape, do Departamento de Ciência Política da UFMG, acredita que o escândalo terá efeitos inevitáveis sobre a campanha presidencial do governador em 2026.
“Esse episódio certamente será explorado pelos adversários. Mesmo sem envolvimento direto, Zema será cobrado por falhas de fiscalização e omissão. Isso abre um flanco difícil de ser contornado”, diz.
Risco à imagem de "governo técnico"
Zema, que ascendeu à política com o discurso de gestor eficiente e avesso aos vícios da velha política, vê agora sua gestão ser associada a práticas que prometeu combater. Em um estado que ainda convive com as cicatrizes das tragédias de Mariana e Brumadinho, a descoberta de irregularidades no licenciamento ambiental abala a confiança de parte da população e pode comprometer alianças políticas fundamentais para o projeto presidencial.
O impacto definitivo do caso sobre sua candidatura dependerá da condução do processo nos próximos meses. A rapidez nas investigações internas, eventuais responsabilizações e a postura pública do governador serão decisivas para a recuperação — ou não — de sua credibilidade nacional.